Sunday, March 09, 2008
Corpo magro, na medida
dose única do equilíbrio
Vende-se saco de beijos (contendo 14) 2 para cada dia da semana
Vende-se uma boca que ama
Um braço qiue abraça
Coragem matutina
Afago à noite
Vende-se uma mulher na medida do pagamento,
do tamanho do bolso
Vende-se carinho, tolerância
Vende-se paciência
Amores recolhidos
com um pouco de pudor
Vende-se imagem - busca
única
Vende-se.
Tuesday, October 23, 2007
Reverso Retrós
A costura simples toma conta do absurdo vestido de festa, renda e ilhoses,
Desenha na barra da bainha
Desenha na barra da bainha
a magia da linha.
Abriga inconstante o colorido acetinado,
Desenha, torna
Abriga inconstante o colorido acetinado,
Desenha, torna
pinta e borda.
Tuesday, September 11, 2007
Cadeira de balanço
Fazer noventa anos é fardo pesado - pensou consigo a vovó - que mascarava a voz do conto, pra fugir dos olhos da sua pleonástica poética.
A cabeça dói e o corpo não absorve calor.
As noites ficam compridas e, o dia perdido como que igual de ressaca.
Doído e penoso.
Que vazio sem fim.
De súbito, as palavras deram de endurecerem-se, emoldurarem-se dentro da garganta.
O corpo, que já não mexe, obedece em nada à vontade de vomitá-las.
Como via contrária ao ato de emmulhecer.
Ora, diz-la sapiência, que à medida que envelhecemos, tornamos-nos capazes de dizer os ditos.
Se ganha uma diarréia de pensamentos entalados, e, que, necessitam absurdamente de laxantes.
Sozinha, sozinha, sozinha... Sem choro de prato pra dois.
O que se quer negar.
De falta às coisas de crianças.
Não estou gostando de ver o tempo passar rápido assim.
No dia de seu aniversário, vovó, eu morro.
Ou melhor, morre a velinha.
Apaga franzina.
A cabeça dói e o corpo não absorve calor.
As noites ficam compridas e, o dia perdido como que igual de ressaca.
Doído e penoso.
Que vazio sem fim.
De súbito, as palavras deram de endurecerem-se, emoldurarem-se dentro da garganta.
O corpo, que já não mexe, obedece em nada à vontade de vomitá-las.
Como via contrária ao ato de emmulhecer.
Ora, diz-la sapiência, que à medida que envelhecemos, tornamos-nos capazes de dizer os ditos.
Se ganha uma diarréia de pensamentos entalados, e, que, necessitam absurdamente de laxantes.
Sozinha, sozinha, sozinha... Sem choro de prato pra dois.
O que se quer negar.
De falta às coisas de crianças.
Não estou gostando de ver o tempo passar rápido assim.
No dia de seu aniversário, vovó, eu morro.
Ou melhor, morre a velinha.
Apaga franzina.
Thursday, July 12, 2007
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina corre
por entre as colunas da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal, torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
Carolina corre
por entre as colunas da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal, torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
Thursday, June 21, 2007
Fome
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
Wednesday, June 20, 2007
Uma estrela nasceu em mim. Brotou na boca do estômago. A estrela deu lugar ao cansaço. Por um tempo, ela ficou parada na parede. Coisa de mosca-morta desatenta de mundo - observante. Em um salto, ela pulou em mim, desceu pela gargantra e pesou indisgesta no estômago. Depois da xícara de chá, ela ficou leve, se fez na disgestão cármica do meu corpo franzino. Uma estrela brotou em mim. Passou pelas veias e agora habita a minha testa.
Escrevendo
Não me lembro mais onde foi o começo, foi por assim dizer escrito todo ao mesmo tempo. Tudo estava ali, ou devia estar, como no espaço-temporal de um piano aberto, nas teclas simultâneas do piano. Escrevi procurando com muita atenção o que se estava organizando em mim e que só depois da quinta paciente cópia é que passei a perceber. Meu receio era de que, por impaciência com a lentidão que tenho em me compreender, eu estivesse apressando antes da hora um sentido. Tinha a impressão de que, mais tempo eu me desse, e a história diria sem convulsão o que ela precisava dizer. Cada vez mais acho tudo uma questão de paciência, de amor criando paciência, de paciência criando amor."
O trem
Hoje de manhã desci do trem. Estava despejado como trânsito de domingo. Quase vazio. A sacola de papéis embasbacados e de leituras vazias me apoiava, e de algum modo, ajudava a passar o tempo da janela.
Ainda no trem tive a vontade -tão imensa vontade- de escrever-te uma carta e decorá-la, ainda com corações coloridos, de leveza e de sutil-idade.
Não sei por que o trem parou e quando desci a vontade foi com ele embora. O papel ficou em branco na minha mão, e, o coraçãozinho decorado amassou no meu bolso.
Ainda há mais uma jornada. De dia de trabalhador. Mais um ponto de passeio. Mais uma vontade, mais um caderno, repleto de folhas.
Ainda no trem tive a vontade -tão imensa vontade- de escrever-te uma carta e decorá-la, ainda com corações coloridos, de leveza e de sutil-idade.
Não sei por que o trem parou e quando desci a vontade foi com ele embora. O papel ficou em branco na minha mão, e, o coraçãozinho decorado amassou no meu bolso.
Ainda há mais uma jornada. De dia de trabalhador. Mais um ponto de passeio. Mais uma vontade, mais um caderno, repleto de folhas.
Não escrevo com pretensão de mudar nada, de mudar o mundo-forma das coisas. Não se muda as coisas. Às vezes elas as coisas nos muda, ou, nos toca em algum aspecto. Mas, que desabrochar gostoso que é o escrever!!!