Tuesday, September 11, 2007

Cadeira de balanço

Fazer noventa anos é fardo pesado - pensou consigo a vovó - que mascarava a voz do conto, pra fugir dos olhos da sua pleonástica poética.
A cabeça dói e o corpo não absorve calor.
As noites ficam compridas e, o dia perdido como que igual de ressaca.
Doído e penoso.
Que vazio sem fim.
De súbito, as palavras deram de endurecerem-se, emoldurarem-se dentro da garganta.
O corpo, que já não mexe, obedece em nada à vontade de vomitá-las.
Como via contrária ao ato de emmulhecer.
Ora, diz-la sapiência, que à medida que envelhecemos, tornamos-nos capazes de dizer os ditos.
Se ganha uma diarréia de pensamentos entalados, e, que, necessitam absurdamente de laxantes.
Sozinha, sozinha, sozinha... Sem choro de prato pra dois.
O que se quer negar.
De falta às coisas de crianças.
Não estou gostando de ver o tempo passar rápido assim.
No dia de seu aniversário, vovó, eu morro.
Ou melhor, morre a velinha.
Apaga franzina.